Ambulante baleado por delegado em Noronha vai amputar perna: "Meu erro foi querer ajudar"
O caso aconteceu no dia 5 de maio, durante um evento de samba no Forte dos Remédios
O ambulante Emmanuel Pedro Apory, de 26 anos, baleado pelo delegado Luiz Alberto Braga de Queiroz após uma briga durante uma festa em Fernando de Noronha, vai precisar amputar a perna.
Em vídeo divulgado nas redes sociais na noite dessa sexta-feira (16), o jovem aparece em uma cama de hospital, visivelmente emocionado. Segundo ele, o seu único erro foi "querer ajudar", e que, com a amputação da perna, segue cobrando por justiça.
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"Vai ser necessária a amputação para seguir com minha vida. E talvez meu erro foi querer ajudar e ter empatia por quem não merece. Dei em cima de ninguém, respeitei a todo momento e, por mais que demora, a verdade tarda, mas não falha", começou.
"A pessoa que tentou ceifar minha vida está tranquila em algum lugar, como se fosse só mais um caso para estatística. Não podemos deixar assim. Eu sei que tentaram me matar. Desejo nenhum mal, apenas quero que a justiça seja feita. Ela pode tardar, mas a justiça de Deus não falha", completou.
O caso aconteceu no dia 5 de maio, durante um evento de samba no Forte dos Remédios. Segundo testemunhas, a confusão começou após um episódio de ciúmes envolvendo o delegado, que é substituto em Fernando de Noronha.
Durante o episódio, Emmanuel foi atingido na perna direita. Inicialmente, ele foi socorrido ao Hospital São Lucas e, posteriormente, transportado de Noronha ao Recife em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea após protestos contra a demora do translado. Ele segue internado no Hospital da restauração (HR) desde então, onde já havia ado por uma cirurgia.
Emmanuel ainda agradeceu a mãe, Maria do Carmo, por toda a ajuda durante todo esse tempo internado.
"O que quero, no momento, é chegar em casa e estar bem. Porque me encontro em cima de uma cama, prestes a fazer uma cirurgia de amputação, precisando de ajuda para tudo. Para comer, tomar banho, me limpar, me cobrir, me deitar e dormir. Se não fosse pela minha mãe segurando essa bronca, não sei o que seria de mim. Graças a Deus tenho ela na minha vida", disse.
A reportagem da Folha de Pernambuco entrou em contato com o Hospital da Restauração em busca de mais detalhes sobre o estado de saúde de Emmanuel. O retorno foi que, "a pedido da família, a unidade não vai rear mais informação" sobre o paciente.
Relembre o caso
Na madrugada dessa segunda-feira (5), o jovem foi baleado por um delegado, durante uma festa no Forte dos Remédios, em Noronha.
O motivo da confusão, que foi gravada por câmeras de segurança, não foi oficialmente divulgado, mas teria sido motivado por ciúmes.
Segundo nota emitida pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), a Polícia Militar foi acionada após relatos de disparos de arma de fogo no local.
Policiais socorreram a vítima ferida para o Hospital São Lucas, no arquipélago. A SDS não divulgou o nome do agente de segurança envolvido na agressão.
"A Polícia Civil de Pernambuco instaurou um inquérito, que está sendo conduzido pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). As investigações estão em andamento para esclarecer totalmente o ocorrido", destacou a corporação.
A Corregedoria Geral da SDS instaurou um procedimento preliminar. O órgão também acompanhará a investigação da PE.
Versão da mãe do jovem
Em entrevista ao Brasil Urgente Pernambuco, Maria do Carmo, mãe do jovem, informou a versão apresentada por Emmanuel.
Segundo ela, a história teria iniciado ainda na sexta-feira (2). Na data, o jovem de 26 anos teria conhecido uma mulher, que não foi identificada, na academia.
A jovem teria se apresentado como nutricionista e chegou a manter uma conversa com Emmanuel sobre a profissão. No entanto, o contato inicial foi encerrado ainda na academia.
No dia seguinte, Emmanuel relatou ter encontrado novamente com a mulher. Na ocasião, outros amigos do jovem também conheceram a nutricionista.
Já no domingo (4), durante uma festa, Emmanuel teria encontrado a mulher pela terceira vez. No entanto, evitou contato com a jovem, que estava acompanhada do delegado.
"Ele encontrou ela com o rapaz. Viu que ela estava acompanhada e nem cumprimentou ela para não causar ciúmes. Ele ficou um pouquinho e foi ao banheiro. Quando saiu, o delegado já estava escondido e chegou pelas costas, batendo nele", afirmou a mãe do jovem.
"Você ficou com a minha mulher", teria afirmado o delegado para Emmanuel, antes de atirar no jovem.
Adeppe diz que delegado atuou em legítima defesa
Em posicionamento oficial divulgado nessa segunda-feira (5), a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (Adeppe) afirmou que o delegado atuou em legítima defesa.
De acordo com a associação, Emmanuel Pedro Apory, de 26 anos, teria agredido o delegado.
"O agressor deu início a violentas agressões físicas, demonstrando a intenção de desarmá-lo — o que configurava grave risco à integridade física do agente e de outras pessoas presentes", afirmou a associação.
Ainda segundo a Adeppe, a abordagem do delegado teria sido motivada por um "comportamento reiterado de perseguição/importunação contra sua companheira".
A associação destacou ainda que o delegado não havia consumido bebida alcoólica.
"Tão logo controlada a situação, apresentou-se espontaneamente ao delegado da Polícia Federal, única autoridade policial disponível na localidade naquele momento", diz a Adeppe.