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OPINIÃO

PSG, uma tarde sa em Munique

Ruy Castro disse que toda vez que Tom Jobim tocava ao piano o mundo ficava mais bonito. Verdade. Wave, arim, Corcovado, Chovendo na roseira, Águas de março. O cotidiano torna-se mais atraente por causa da beleza. Em todas as suas formas.

Sim, a beleza do cinzel de Cândido Portinari; dos vitrais de Marianne Peretti; dos versos de Joaquim Cardozo; da arquitetura de Armando Holanda; da percussão de Naná Vasconcelos; da folha seca de Didi. O talento nos enche de alegria. E terá sempre uma dimensão individual. A beleza nasce de uma subjetividade imemorial, diria Nelson Rodrigues. Mas há o coletivo. O desafio das conquistas coletivas. Onde se exige espírito de equipe. Coordenação de funções. Visão do tático. E do estratégico.

Hoje à tarde, assisti a decisão da Champions League. Entre o PSG e a Inter, de Milão. Jogo realizado em Munique. O maior campeão da Liga é o Real Madrid: quinze vezes. O segundo maior campeão é o Barcelona: cinco vezes. Dos grandes times europeus, o único que ainda não havia ganho o troféu era o PSG. Fez de tudo. Contratou Messi. Depois, contratou Neymar. Deu força a Mbappé. Juntando os maiores astros da bola até então. E nada.

Há dois anos, tive a chance de visitar a sede do PSG. Atendendo a um precatório de meu neto. Incontornável. Onde não cabia recurso. Vimos a variedade de uniformes, camisetas, fotos de craques. Legendas alusivas às conquistas do clube. Vitrines de ídolos. Mas reinava um silêncio conveniente sobre certo tema. Ausência sobre assunto tratado como se fosse um esquecimento. Mera distração em meio a tanta exaltação. E exultação. A Champions.

Agora, a Champions já não é um vazio nas prateleiras do PSG. E de um modo improvável. Inesquecível. Resultado que deve ter ido parar nas folhas das escrituras sagradas. 5 a 0 na Inter. Com vinte minutos de jogo, o placar já estava 2 a 0. O gramado alemão, verdíssimo, de repente tornou-se um solo vestido de azul. Fazendo minguar o amarelo milanês. Perdido em campo. O que se viu foi uma escola de futebol. Precisa. Ágil. E telepática. Como se tivesse vinda de uma sessão de terapia Freudiana.

O time do PSG mostrou três pilares de atuação inspirada: o atacante Dembelé, com 8 gols em 15 partidas do campeonato francês. Com uma assistência na partida de hoje digna de Copra do Mundo. Um toque leve na bola, com o calcanhar, deixando o ponteiro Désiré Doué na porta do gol. Efetivado. O segundo pilar foi o mesmo Doué. Autor de dois dos cinco gols.

Sendo de oportunidade. E exato. Como um cirurgião da Faculdade de Medicina de Paris.
O terceiro pilar foi a harmonia do conjunto. Que o técnico, sábio das quatro linhas, Gentil Cardoso, chamava de entrosamento. O time do PSG jogou de ouvido. A bola fluía como um violino Stradivarius. E a Inter, tonta. Sem compreender o como da partida. Menos ainda as notas da sonata executada pelos ses.

Encerrado espetáculo, fui até a janela. Do morrote onde moro, irei o arrebol de uma tarde tricolor. Na qual, o ígneo do sol caía sobre o azul na despedida do dia. Na espera das estrelas. Aproveitei e botei no som Clair de Lune, de Debussy. Para não dizerem que não falei de flores.

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