Lula faz ''campanha'' para Rodrigo Pacheco em Minas: ''Nenhum desses picaretas têm chance"
Presidente criticou deputados que 'vivem na frente do celular falando mal dos outros', e disse que Minas 'não merece' Nikolas Ferreira ou Cleitinho Azevedo, potenciais candidatos da direita no estado
Em agenda em Minas nesta quinta (12), Lula fez alguns afagos ao senador Rodrigo Pacheco (PSD), aliado do petista e presente nas cerimônias. O ex-presidente do Senado foi chamado de "futuro governador de Minas" e fez longo discurso em um evento de entrega de máquinas agrícolas.
Além disso, Lula atacou o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos - MG), potenciais candidatos da direita ao governo do estado no ano que vem.
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Na primeira cerimônia do dia, em Mariana (MG), onde houve anúncio de projetos dentro do acordo de reparação na Bacia do Rio Doce, Lula chamou Pacheco de "futuro governador de Minas". No segundo evento, em Contagem (MG), onde houve entrega de máquinas agrícolas, o presidente se aprofundou no tema e não só elogiou seu aliado como criticou potenciais adversários.
— Nossa relação é extraordinária. Eu brinco com ele (Pacheco) que vocês sabem o que eu quero que ele seja. Nenhum desses picaretas, que acham que são bons porque vivem na frente do celular falando mal dos outros, têm a menor chance de competir contra o Pacheco — afirmou Lula, que ao longo do dia fez críticas a deputados que ficam "fazendo provocação" no celular e fugindo do debate, em referência indireta à discussão entre Nikolas Ferreira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. — Eles gravam a pergunta deles e saem correndo sem ouvir a resposta. Menor compromisso com a verdade.
Em outro momento do seu discurso, Lula relembrou a disputa de Haddad contra João Dória pela prefeitura de São Paulo, em 2016. Na visão do presidente, aquele erro não pode ser repetido em Minas. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos - MG), opositores do governo federal, são dois nomes cotados a candidatos ao governo de Minas no ano que vem e, portanto, poderiam enfrentar Rodrigo Pacheco.
— Depois desse governador que não vou falar o nome (referência a Romeu Zema), esse estado não merece Nikolas (Ferreira) e Cleitinho (Azevedo), senador — disse Lula, que encerrou seu discurso com mais um afago a Pacheco. — Saio daqui com a certeza que já temos o governador para Minas.
Deboche sobre depoimento de Bolsonaro: 'Covardão'
Lula também aproveitou o evento para criticar o depoimento de J air Bolsonaro no STF no julgamento sobre a tentativa de golpe de estado.
— Você vê que ele é um covardão, viu o depoimento dele ne, estava com os lábios secos, estava quase se se borrando. É muito fácil ser corajoso dentro de casa, no celular, falando mal dos outros —disse Lula.
Clima ruim na Câmara
Na primeira agenda do dia, Lula afirmou que o clima na Câmara dos Deputados é "muito ruim". A fala aconteceu um dia após o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) terem protagonizado uma discussão durante uma audiência pública.
Sem mencionar nomes, Lula afirmou também que "as pessoas estão aprendendo a viver de mentiras". No bate-boca desta quarta (11), Haddad reclamou que os deputados Nikolas Ferreira e Carlos Jordy, também do PL, teriam citado dados falsos sobre a situação fiscal do país.
— Estamos vivendo momento muito desagradável no mundo, há certa raiva no ar, há um certo desconforto entre a humanidade, muita intriga, ódio e xingamento. Mesmo na Câmara o clima é muito ruim. Tem Deputado que não quer falar, só quer pegar celular, olhar na cara dele, falar uma bobagem e ar pra frente. As pessoas estão aprendendo a viver de mentiras — afirmou Lula nesta quinta (12), durante evento de anúncio de investimentos pelo acordo de reparação da Bacia do Rio Doce.
A discussão desta quarta (11) aconteceu na reunião conjunta das comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle. Na ocasião, Nikolas e Jordy criticaram o governo federal e as medidas propostas pela Fazenda, mas se retiraram da audiência antes de ouvir as explicações do ministro. Ao retomar a palavra, Haddad disse que os deputados fugiram ao debate, o que era uma "molecagem", e complementou que "desrespeito é mentir".
Além de Lula, o evento desta quinta, em Mariana (MG), contou com vários ministros, como Rui Costa, Marina Silva e Alexandre Silveira. Houve a presença também de deputados e senadores de Minas. Presente, Rodrigo Pacheco (PSD) foi chamado de "futuro governador de Minas Gerais" por Lula.
Vaias no início da cerimônia
Na abertura do evento, Lula interrompeu o discurso do prefeito de Mariana (MG), Juliano Duarte (PSB), para lhe defender de vaias e protestos da população local. O prefeito estava sendo muito vaiado até que o presidente pediu a palavra, pediu respeito ao seu "convidado" e disse para que os manifestassem aguardassem o final do evento.
Juliano Duarte começou a ser vaiado desde que iniciou seu discurso, relembrando sua trajetória política na cidade. Quando ele ou a relembrar os danos à população de Mariana após o rompimento da barragem que matou 19 pessoas e contaminou o Rio Doce, parte do público começou a gritar "Ih, fora" para ele.
Nesse momento, Lula pediu a palavra para defender o prefeito.
— Não tem sentido o presidente da República vir a um lugar, convidar autoridade, ele chegar aqui e ser mal recebido. Ninguém convida ninguém para ir na casa da gente para ser mal recebido. Então eu queria que os companheiros que estão se manifestando contra, deixem acabar o ato. Quando começar campanha política, faça sua campanha, seja contra. Mas hoje não! — afirmou Lula, sob aplausos, que ainda disse que o momento é "histórico" para a Mariana. — Não pensem que foi fácil construir esse acordo, porque quando chegamos na presidência estava parado há 8 anos e ninguém negociava. Hoje é um dia institucional, o prefeito é nosso convidado. Não é proibida a liberdade de expressão. É apenas responsabilizando a liberdade de expressão.
Após a fala de Lula, o prefeito retomou seu discurso e foi até aplaudido em alguns momentos. Ele relembrou os "momentos difíceis" vividos pela população de Mariana após o rompimento da barragem.
— Desde o dia 5 de novembro de 2015 (data da tragédia), nenhum presidente pisou em Mariana. Por isso, nossa gratidão e nosso respeito. Mariana enterrou vidas, memórias, dignidade. Foi a maior tragédia ambiental, considero como crime ambiental, do mundo, isso tem que ser registrado — afirmou o prefeito, que celebrou os anúncios para construção de um hospital universitário na cidade, dentre outros investimentos. — Mariana não quer ser conhecida como a cidade da lama. E sim uma cidade que teve uma reconstrução coletiva.
Críticas à Vale
No seu discurso, ao final do evento, Lula fez críticas à Vale em relação à falta de reparações definitivas 10 anos após a tragédia.
— A Vale, se fosse uma pessoa, estava garantida nas profundezas não sei do que — exclamou o presidente, que depois elogiou a nova istração da empresa. — A a Vale era uma empresa muito boa no ado. Depois que ela virou "corporation", ela não tem mais dono. A diretoria ada é responsável. Porque hoje a nova diretoria da Vale está conversando com governo, quer conversar com movimento, quer conversar com sindicato. O que eu quero é que a Vale se recupere, volte a ser a primeira empresa mineradora do mundo. A nova diretoria sabe que a relação com o povo tem que ser respeitosa, civilizada, e com muito respeito.
O presidente também destacou que a partir de agora o governo federal também é responsável pela conclusão das reparações.
— Nós não temos mais desculpa, agora as coisas têm que acontecer, agora é da nossa responsabilidade — disse o presidente. — Agora, quando o povo de Mariana quiser xingar, vai falar a Vale é isso, mas também vai falar que o governo é aquilo.
Novo acordo de reparação
Mariana foi uma das cidades que não aceitou o novo acordo de reparação pela tragédia de 2015. Como mostrou O Globo, apenas 26 dos 49 municípios contemplados am os novos termos, homologados no final do ano ado pelo STF, com previsão total de R$170 bilhões.
Um dos principais motivos para a não foi a presença de parte dessas cidades na ação contra a BHP em Londres, com pedido bilionário de indenização. Quem assinasse o acordo brasileiro precisaria abrir mão de qualquer processo judicial no Brasil ou no exterior.
Os municípios que não aderiram ao acordo reclamaram dos valores apresentados pelas empresas BHP e Vale. Os rees diretos aos 49 municípios somariam R$6,1 bilhões nos próximos 20 anos. Desse montante, a maior fatia seria justamente para Mariana, a cidade mais afetada: cerca de R$, 1,3 bilhão.
Entre as críticas que motivaram a não , cujo prazo se encerrou em março, a prefeitura de Mariana citou o fato dos governos estaduais de Minas e do Espírito Santo, além da União, receberem mais que as prefeituras.
Mas, mesmo sem receber os rees diretos das empresas, Mariana, assim como toda a bacia do Rio Doce, será beneficiada pelas ações coletivas de reparação, em parte de responsabilidade do governo federal.
Juliano Duarte explicou que Mariana será beneficiada pelo ree de R$ 139 milhões nos próximos dois anos. Além disso, o município vai doar área para a construção do novo Hospital Universitário, em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), e contribuir com mais R$20 milhões para o projeto.
Outro anúncio do governo federal, como parte do acordo, é o contrato com a Caixa para Programa de Transferência de Renda (PTR), que vai pagar R$ 3,7 bilhões em quatro anos. Nesse período, agricultores, pescadores e moradores impactados pela tragédia receberão um pagamento mensal de 1,5 salário mínimo por três anos, e mais um salário mínimo mensal no último ano do programa. A expectativa é que sejam beneficiadas 15 mil famílias de agricultura familiar e 22 mil pescadores.