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TRAMA GOLPISTA

Moraes dá 24 horas para Meta fornecer dados sobre perfil do Instagram citado em interrogatório

Pedido para investigar conta foi feita pela defesa de Mauro Cid após reportagem da revista Veja apontar que militar usou perfil para criticar delação premiada

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta sexta-feira que a empresa Meta forneça em um prazo de 24 horas dados cadastrais de uma conta no Instagram que, segundo a revista Veja, foi utilizada pelo tenente-coronel Mauro Cid para criticar sua delação premiada.

O pedido para investigar a conta havia sido apresentado pela defesa do militar, que negar ter utilizado a conta.

Durante interrogatório na segunda-feira, Cid chegou a ser questionado pela defesa de Jair Bolsonaro se utilizou o perfil "@gabrielar702" para tratar da delação. Ao fazer questionamentos ao delator, o advogado Celso Vilardi sugeriu que o meio de comunicação pudesse ter sido usado pelo colaborador, o que Cid negou perante o juízo.

Em seu despacho, o ministro requer que a empresa forneça as seguintes informações:

  • Email e o número de telefone celular cadastrados pelo usuário;
  • Informações sobre outros s vinculados e se foram ados por meio de navegadores de internet em notebooks ou computadores;
  • Todas as mensagens enviadas e recebidas no período de 1º/5/2023 até 13/6/2025.

Os diálogos de Cid no Instagram, segundo a Veja, teriam sido travados com uma pessoa do círculo próximo do Bolsonaro entre janeiro e março de 2024. Em pedido protocolado no STF, os advogados do delator tratam o caso como "fake news".

"Basta uma leitura leiga, e até simplista, que pode ser comparada com todas as mensagens extraídas de seu celular que estão colacionadas na ação penal a que responde, para se perceber que as expressões utilizadas por quem as escreveu não são de autoria de Mauro Cid".

Os advogados do colaborador ressaltam que na reprodução da revista há "erros crassos de concordância verbal", além de "forma equivocada de se referir aos Generais da Forças Armadas".

"Destaca-se a forma grosseira, quase analfabeta, com que foram construídos os diálogos e que jamais poderiam ser de autoria de Mauro Cid, tratando-se de mais uma miserável fake news que é tão combatidas por esse Supremo Tribunal".

Nas mensagens veiculadas pela Veja, o perfil aparece criticando os delegados da Polícia Federal e o ministro Alexandre de Moraes pela condução do inquérito sobre a trama golpista.

Em relação a Moraes, o usuário diz que o ministro já teria a narrativa pronta antes de a investigação ser concluída. "Ele já deve ter pronto a ordem de prisão do PR (presidente Bolsonaro). Não precisa de prova. Só de narrativas".

Em outro momento, ele afirma que os investigadores "queriam colocar palavras na boca" dele, e dá detalhes sobre as etapas da sua colaboração premiada.

"Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca... E eu pedia para trocar. Foram três dias seguidos. Um deles foi naquela grande depoimento sobre as joias. Acho que foram 5 anexos", diz a mensagem.

O teor dos diálogos é similar ao dos áudios vazados em março do ano ado, que levaram Cid a ser preso novamente por quebrar a regra de manter a delação em sigilo.

O perfil atribuído a Cid também faz comentários contra o Supremo — "o STF está todo comprometido" — e prevê que a situação só "pode mudar" com uma vitória eleitoral do presidente Donald Trump nos Estado Unidos. "E o Brasil começar a ter sanções.... igual Nicarágua e Venezuela".

O perfil "@gabrielar702" foi citado pela primeira vez pelo advogado Celso Vilardi, que representa Jair Bolsonaro.

Na sessão, o defensor perguntou ao tenente-coronel se ele havia falado da delação por meio de um perfil no Instagram que "não está no nome dele". Cid respondeu que "não", mas Vilardi insistiu na questão:

— Conhece um perfil chamado @gabrielar702?

Nesse momento, o tenente-coronel respondeu de forma hesitante:

— Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa, mas Gabriela é o nome da minha esposa — disse ele.

Antes, o tenente-coronel havia negado ter conversado com jornalistas ou pessoas investigadas sobre a sua delação, argumentando que todos os seus celulares e computadores haviam sido apreendidos pela Polícia Federal e "revirados de ponta cabeça".

Ao fechar um acordo de delação premiada, o Cid firmou o compromisso de dizer a verdade e não omitir nenhuma informação relacionada à investigação, conforme a legislação. Se essa cláusula for quebrada, Cid pode perder os benefícios penais oriundos da delação.

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